De Bentinho para Capitu


A Joaquim Maria Machado de Assis

Observar-te em plácido sono, cuidado em madrigal
Levedura, entregue e lânguida, em negra gaze envolvida
Sobre o verde da relva, a serena ventura
De uma dama etérea, de tez tão clara
E, ainda mais, assim adormecida.
Como me é belo vislumbra-te
Ida à navegação dos sonhos.
É como liberar, num só mágico instante
Toda a dor, que de meu corpo fez refém
E da razão, me fez imune.
Ao sentir-te agora, no que, por meu desejo
Haveria sido ausente as neves da mútua incongruência
Defesnestro este o ignóbil e mortal ciúme.
Destarte, mesmo que o acaso de alguns intensos beijos
E estando longe das luzes de qualquer ciência
Ver-te assim, menina bela de minha existência
Como, em levitação, uma boneca de louça
E nem a mínima ruga na fronte alva
Que lhe turve o sono fundo e crispe o rosto
Devolve-se-me a crença no amor
E a plenitude à alma
E sem que Deus nenhum me ouça.
Faz-me ledo entender o porquê simulo tanto
E o porquê, de perdê-la, assim, tanto medo E o porque, de que tanto, a mim mesmo, minto.

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