Desastre

Há quem pretenda
que o poema seja
mármore
ou cristal – o meu
o queria pêssego
pêra
banana apodrecendo num prato
e se possível
numa varanda
onde pessoas trabalhem e falem
e donde se ouça
o barulho da rua
Ah quem me dera
o poema podre
a polpa fendida
exposto
o avesso da voz
minando
no prato
o licor a química
das silabas
o desintegrando-se cadáver
das metáforas
um poema
como um desastre em curso.

Ferreira Gullar

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